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Os Melhores Anos das Nossas Vidas

by Nosso Querido Figueiredo

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1.
Noites 03:11
noites mal dormidas pensando em tanta coisa imaginando se você se preocupa também mas o que você pensa não é da conta de ninguém noites mal dormidas noites ingratas em claro sob as lâmpadas de postes vozes em rádios e televisores mulheres homens sólidos vapores
2.
Mais Nada 07:48
você está aí deitado e recebe uma mensagem: "esse mundo acabou dele não resta mais nada" você fica aí deitado e quer fazer alguma coisa a respeito dessse fim mas logo se dá conta que é melhor ficar deitado esperando a vontade ir embora pra bem longe longe mesmo de verdade esperando a vontade ir embora pra bem longe mas tem gente lá na rua matando por muito pouco e gente que tá morrendo por ainda muito menos mas tem gente lá na rua matando por muito pouco e gente que tá morrendo por ainda muito menos gente jovem vira lixo em cantos de celas tristes nos quartos de hospital nas pedras e nas calçadas de avenidas muito largas de avenidas muito largas de avenidas muito largas de avenidas muito largas tem gente que tá gritando enviando uma mensagem e gente que só recebe duas, três dizendo assim: "esse mundo acabou dele não resta mais nada" "esse mundo acabou dele não resta mais nada" você sente o cutuco e não se entrega assim acha que vai ficar bem tomando uma cerveja e fumando um cigarro comendo um sanduíche que entala na garganta sua voz já te escapa e você não entende o que é que te falta e você não entende o que é que te falta você bate uma punheta ao pensar na liberdade o prazer de culpa e dor que você nem sente mais é falso e já passou do prazo de validade aí se vira de desgosto ao pensar em tanta gente que daria tudo até antebraço e cotovelo para estar no seu lugar para ter o seu cabelo você pensa no suplício genocídio de verdade alguém é assassinado por ter nascido errado às vistas de alguém que escolhe o bom e o ruim você se importa com o que acham que você é você tem a pele certa o jeito certo e não quer se envolver no que não é da sua conta e nem vai ser os seus olhos certos veem mas você não crê: esse mundo acabou dele não resta mais nada
3.
Respira 06:54
hoje eu vi flores ouvi fogos hoje eu vi você atravessar minha rua cabeça baixa em silêncio e não tive tempo de perguntar onde você vai? onde você foi? tem coisas que é melhor não saber eu te vi num táxi fugindo do azar a cidade explodiu em comemoração mas você não quer celebrar não quer compartilhar dessa alegria envenenada que parece tomar conta do ar faz tempo que a gente respira ódio gasoso e mentira faz tempo que a gente se afasta quando na verdade devia se aproximar faz tempo que a gente caminha num cemitério a céu aberto a gente se perdeu do caminho certo e só nos resta o erro só nos resta observar até quando conseguimos errar e depois esquecer os erros pra onde você vai? de onde você vem? faz tempo que a gente respira ódio gasoso e mentira hoje eu não vi nada não vi ninguém nem vi você sumir pra onde você foi? de onde você veio?
4.
Segurança 08:30
você me ouviu conversar eu tinha um belo celular cartões e contas pra pagar não sei o que me deu pr'andar com armas, escudos, katanas mas eu não vou me entregar mas eu não vou me entregar aos homens hediondos de índole má aos homens hediondos de índole má seguro eu rumo ao lado de lá sem rumo sem contas nem celular confuso me deixo aproximar caminho noturno a se afunilar perdido nas ruas perto do cais mas eu não vou me entregar mas eu não vou me entregar às sombras e às dobras do azar às sombras e às dobras do azar lampejos, relâmpagos, temporais sirenes, polícia e jornais cigarros e crimes passionais incêndios querem me abraçar nas cinzas, os homens de índole má mas eu não vou me entregar mas eu não vou me entregar às pestes malditas da cor de âmbar às pestes malditas da cor de âmbar projéteis rompendo a barreira do som cortando o ar na minha direção é ferro nas veias e no coração sombras me abraçam, me tiram do chão me elevam na névoa e em contramão não vejo milagres, somente ambição eu vejo ameaças rondam cidadãos um mundo violento desde a criação quero segurança a caminho do chão quero segurança a caminho do chão quero segurança a caminho do chão quero segurança a caminho do chão
5.
Arde 04:40
giordano bruno arde na fogueira arde ardem cabelos arde sua cara e eu tenho na mão um extintor um extintor de incêndio novinho em folha que ainda não usei a biblioteca arde em alexandria ardem livros a sabedoria arde e eu sou motorista do caminhão do caminhão de bombeiro eu ligo a sirene e corro apago o fogo depois eu corro enquanto arde arde joana d'arc arde joana arde sua espada arde seu escudo arde arde seu rosto arde tudo e eu eu tenho um balde um balde cheio d'água para apagar o fogo eu tenho um balde e não vou me deixar intimidar pelas chamas que agora ardem e tudo arde atlanta o vento leva arde roma arde o edifício joelma arde pompeia e o museu nacional ardem florestas na califórnia e em portugal arde, arde tudo arde
6.
quando a gente pensa demais na gente a gente esquece dos outros quando a gente pensa demais nos outros a gente esquece da gente quando a gente pensa demais a gente esquece o que é fazer quando a gente faz demais a gente esquece de não fazer quando a gente não faz aparece outro pra fazer e a gente esquece que não fez quando a gente fala demais a gente esquece o que é silêncio quando a gente fica calado a gente esquece o que é falar quando a gente planeja demais a gente esquece o que é conquistar quando a gente conquista demais a gente esquece o que é se frustrar quando a gente se frustra demais a gente esquece o que é vencer quando a gente vence demais a gente esquece o que é perder quando a gente perde demais a gente esquece de viver quanto mais a gente vive mais a gente vai esquecer quando a gente esquece demais depois não tem o que lembrar quando a gente lembra demais é imensa a dor que a gente sente
7.
Tribunal 04:10
eu testemunhei um crime que todo mundo viu mas ninguém quis denunciar acho que sobrou para mim sobrou pra mim denunciar esse crime infelizmente não tenho provas além é claro da minha memória a imagem do gatilho marcada na retina talvez ninguém acredite em mim é minha palavra contra a do assassino policiais e assassinos conversam no mesmo idioma a lei e a desordem no fim se encontram como dois primos distantes um é abastado e o outro, mendicante e eu enquanto isso não sou ninguém analfabeto nessa língua e em tantas outras só conheço o português se quiserem me ouvir eu ofereço detalhes que ninguém conhece a marca do relógio do bandido suas palavras, seus gestos, sua aparência de homem honesto o ângulo de suas rugas cruzando o rosto em sulcos em sustos, avenidas de horror eu sei a que horas tudo começou eu sei como se deu o caso a que horas me servem café? a que horas me dão de comer? a que horas vocês vão me ouvir? minha boca seca de tanto falar eu vi um inocente sucumbir à infâmia dos homens de índole má e agora sentado num quarto empoeirado cotovelos apoiados numa mesa de fórmica eu observo as câmeras que me observam de volta não sei se isso é um tribunal a que horas vocês vão me ouvir? a que horas vocês vão me ouvir? a que horas vocês vão me ouvir? talvez seja tarde demais
8.
você lembra como era lindo? era tão lindo você não quis nem tocar
9.
enquanto você dormia eu tive uma visão alguém arrombava a porta e levava a televisão eu era levado junto e posto num furgão reposto por uma cópia esvaziada de emoção enquanto você dormia a cópia teve uma visão me viu amarrado e sangrando esvaziado de emoção iguais a cópia e eu vazios de emoção não havia mais nada nem mesmo televisão enquanto você dormia levaram seus anéis joias preciosas herança e papéis levaram suas coisas e as minhas também deixaram-te a cama e nada além enquanto você dormia você teve um sonho ruim seres brutos sem rosto assustando a você e a mim não não dá mais você não quer acordar pois esse sonho ruim está em todo lugar enquanto você dormia eu tive uma visão eu abria a porta e me deitava no colchão

about

Esse é meu álbum número quarenta e poucos ou cinquenta, já perdi as contas há algum tempo. São oito canções inéditas, contaminadas pelos nefastos vapores que intoxicam o Brasil, onde eu toco sintetizadores à moda Brian Eno, canto com auxílio de AutoTune em algumas faixas, programo uma orquestra sintética aqui e ali.

O álbum tem um tradicional hino protestante do século XIX e termina com ruídos vindos de um abismo inominável. Essas são as canções de uma pessoa cansada, confusa e desiludida. Comecei a fazer música em 2008 e, naquela época, me sentia irado, confuso e iludido. As ilusões se foram e eu perdi a raiva. Têm sido cansaço, confusão e desilusão os motores dos meus últimos trabalhos – ouvir Juventude (2017) e Eu Não Estou Em Sintonia (2015). Por acaso alguém achou que eu conseguiria fugir disso? (E justamente AGORA?)

Toda vez que finalizo um disco, acabo entrando em pânico porque tenho a impressão de que nunca mais conseguirei gravar coisa alguma. Depois fico mais tranquilo porque ninguém espera nada de mim. Depois entro em pânico de novo – justamente porque ninguém espera nada de mim. Aí gravo uma música nova. (E se alguém estiver esperando?)

Paciência. Eu não sou a Taylor Swift, apenas um Sísifo que escolheu a própria rocha: gravar ao menos um disco por ano ao longo de toda a eternidade. Eu não consigo parar de escrever canções. Dentro da minha cabeça roça uma lixa no cérebro e de vez em quando a fricção parece música. Minha discografia é maior que a do David Bowie. Uma hora ou outra eu arremato um Ziggy Stardust. (I’m not gonna talk about Judy.)

Matheus Borges
(Nosso Querido Figueiredo)

"Em mais um disco o Nosso Querido Figueiredo mantém o tom crítico e alarmante inerente a sua obra. A estética caseira modula toda a frequência das músicas que percorrem os caminhos soturnos do post-punk com flertes a outras esferas eletrônicas".
Música Café

"Não é um disco fácil, nem assobiável, nem dançável. É um trabalho pra se arrastar nas bordas da solidão, afastado de qualquer contato social. Um disco pra quem quer um afastamento".
Floga-se

credits

released March 14, 2019

Escrito e produzido por
Matheus Borges

A introdução de "Noites" é "Nearer, My God, to Thee", composta por Sarah Flower Adams.

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about

Nosso Querido Figueiredo Porto Alegre, Brazil

Figueiredo iniciou sua jornada em 2008. Desde então, gravou dezenas de álbuns caseiros.
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