1. |
O Cidadão (Parte 1)
02:31
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não tenho ambições
só tô pelo carnaval
castrado de minhas emoções
não vivo nessa aldeia global
não tenho paciência
pra televisão
se bem que com certa frequência
eu até assisto ao domingão
viver é tão fácil
mais fácil é aproveitar
tenho a lagoa no meu quintal
e um vento a me acariciar
eu sou fino e bonito
cresci com muito carinho
porém a grama mais verde
é sempre a do meu vizinho
gosto da minha cerveja
eu não fumo nem cheiro
meus pais já me diziam
maconha é coisa de maconheiro
eu cresço e apareço
arrumo um casamento
vivo de aparências
enquanto crio meus rebentos
meu filho,
não perca seu tempo
e crie seu próprio negócio
seja um advogado
quem sabe cuide do meu divórcio
quem sabe tenha uma namorada
mais linda que a filha do simão
quem sabe tu seja o prefeito
e acabe com a podridão
é claro que eu falo da sanga
é claro que eu gosto do banga
é claro que eu vou no boliche
é claro que eu gosto daqui
é claro que eu vou morrer aqui
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2. |
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sentada na pinvest
o vento nordeste
acaba com o penteado da mulher
na praça rui barbosa
ele colhe uma rosa
e dá para quem quiser
e tudo que eu tenho
é uma praia e um engenho
frutos de outro tempo qualquer
um ponto de hospedagem
no meio dessa miragem
abriga todo mundo que vier
meu nome é tapes
terra de prosperidade
quero ver você achar
algo como essa cidade
existe uma surpresa
eu não sou veneza
e não vou sucumbir
não vá para paris
venha pra cá seja feliz
até a hora de partir
new york é para os fracos
na terra dos buracos
você vai se divertir
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3. |
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você sempre quer mudar
e eu acho sem necessidade
você sempre quer mudar
tudo nessa cidade
você até pensou em cercar
a cidade para ninguém entrar
mas desse jeito
onde o turista vai veranear?
saiba que não vai ser assim
para cercar a nossa cidade
passe por cima de mim
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4. |
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minha família é tradicional
reina soberana na cidade natal
eu tento ser o que eles querem de mim
mas eles não sabem sou errado assim
mas eles acham que se for o caso
eu doo um rim
meu pai acha que eu sou bom menino
mas bons meninos não crescem do vinho
não nascem da terra
e nem são do vizinho
mas bons meninos
não quebram vidraça
mas bons meninos
não tomam cachaça
mas bons meninos
não fumam cigarro
mas bons meninos
não batem o carro
mas bons meninos
frequentam a escola
mas bons meninos
não cheiram cola
mas bons meninos
apenas crianças
mas bons meninos
pela vizinhança
mas bons meninos
não enchem a rua
mas bons meninos
não uivam pra lua
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5. |
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conheço você de longe
trago no peito a certeza
de que você foi embora
tapes me abandonou
e nunca mais vai voltar
a ser o que já foi
um paraíso à beira da lagoa
uma terra com gente tão boa
agora eu vivo sozinho
chorando num canto
implorando perdão
eu estou triste
e existe um motivo
eu estou morto
querendo estar vivo
veja o que aconteceu
eu não sou mais eu
minha mãe já me disse
meu filho
existe
alguém
implorando
por salvação
esse alguém sou eu
mas não volto
a essa terra
nem dentro
de um caixão
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6. |
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você se apega
à essa imagem
mas é sacanagem
não compartilhar
você se apega
a um sacrifício
e é muito difícil
não te ignorar
você se apega
a esse negócio
e mesmo no ócio
eles vão se lembrar
de um tempo de glória
na sua história
onde colher era plantar
tanto arroz
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7. |
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em um ano
essa rua
uma cratera
feito a lua
orbitando
na calçada
faz de tudo
faz de nada
tem apoio
e a cruzada
da esfera
pública esfera
agravando
a conjuntura
disputando
a prefeitura
em um sistema
cada vez mais fraco
um ano ruim
para cada buraco
a falta de interesse
um suspiro e uma prece
e a vontade de mudar
ah se tudo dependesse
(i)mobilização popular
uma cidade
paralítica
em sua própria política
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8. |
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nada na história
poderá anular
o jeito com que você
me chama pra cá
vamos passar
a tarde na pinvest
farofa na galinha
uma garrafa de pepsi
nada nesse mundo
poderá me fazer
deixar tudo pra trás
ou te esquecer
vamos passar
a noite na praça
carnaval de rua
encho a cara de cachaça
essa cidade
me deixa tão bem
tiro a roupa na esquina
e a polícia não vem
vira e mexe
eu faço um milagre
me acabo na hóstia
e no vinho do padre
nossa senhora
agora é a hora
eu vou embora
ou então vou ficar
eu conheci tapes
escrevo essa carta
e na ponta do lápis
a verdade me ataca
pra nunca me deixar
construo uma casa
lá no balneário
e por lá eu fico
cidadão honorário
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9. |
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toda noite a mesma história
eu saio tarde e volto cedo
o que me aguarda lá fora
eu não sei nem tenho medo
se tá quente eu sinto frio
se tá frio sinto na pele
sei que a felicidade
é uma garrafa de 600 ml
que tipo de vida é essa
que eu levo por aqui?
sem demora eu tenho pressa
eu quero me despedir
desse antro de ilusões
que alimenta o sofrimento
que polui os meus pulmões
com fumaça e com cimento
essa é minha rotina
e não há uma mudança
vivo só a minha sina
sem nenhuma esperança
só confio no meu ego
e não tenho amizades
meus amores são todos cegos
o que me resta nessa cidade?
que tipo de vida é essa
que eu levo por aqui?
sem demora eu tenho pressa
eu quero me despedir
desse antro de ilusões
que alimenta o sofrimento
que polui os meus pulmões
com fumaça e com cimento
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10. |
O Cidadão (Parte 2)
02:20
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a noite qual seja
eu quero uma cerveja
e uns amigos de bar
eu vou no la piova
e mesmo que chova
nada vai me atrapalhar
eu tenho companhia
na maçonaria
e não vou me ausentar
conheço muita gente
até mesmo o presidente
da assembléia popular
eu tenho companhia
na pastelaria
e não vou me ausentar
qualquer coisa eu saio
vou na treze de maio
sem ter que me incomodar
na terra da lagoa
ai como a vida é boa
e também é fácil de lidar
tentei ser um bom moço
salvei o meu pescoço
e deixei o resto afundar
me afogo na cachaça
eu como xis de graça
eu não tenho como pagar
eu tenho companhia
na pizzaria
e não vou me ausentar
lá na padaria
lá na reitoria
lá na lancheria
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Nosso Querido Figueiredo Porto Alegre, Brazil
Figueiredo iniciou sua jornada em 2008. Desde então, gravou dezenas de álbuns caseiros.
Mande um olá:
nossoqueridofigueiredo@gmail.com
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